17 de julho de 2017

os meus cinco minutos # 14

A pequena Maria tem doze anos e está na merda.
Está na merda, pois a mãe pô-la de castigo e tirou-lhe o telemóvel.
Nada no mundo pode ser pior do que nos tirarem o telemóvel!
Grrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr!!!!
Vvvvvvvvvvv!!
Pppppppppp!
Rrrrrrrrrrrrrrrrr!
Não é justo!
Toda a nossa vida está lá!
Está lá a nossa turma inteira, o nosso melhor amigo, o cão, o gato, os concertos, as férias.
Tudo!
Tiraram-lhe o telemóvel sem lhe pedirem autorização e tiraram-lhe um pedaço de si.
Tiraram-lhe o telemóvel, porque disse asneiras (mas todos os meus amigos dizem asneiras!) porque mentiu (vá lá, quem não mente???!!), porque andava a trocar mensagens com rapazes que nem sequer conhecia (e isso é crime???).
Mas a Maria tinha deixado de ser a Maria há muito.
Já não falava com os pais, já não brincava com os amigos, já não cantava, nem lia, nem jogava, nem sorria.
Vamos lá dar o telemóvel à Maria, para saber que confiamos nela.
Vamos lá dizer à Maria que gostamos dela e a amamos e que tudo vai ser como era dantes.
Vamos lá esquecer o assunto e dizer que temos orgulho da Maria, mesmo quando não arruma o quarto e não tira boas notas.
E a mãe voltou a dar-lhe o telemóvel.
Toma lá!
Voltou a dizer que a amava.
Amo-te!
Voltou a confiar nela.
Confio em ti!
E a Maria esqueceu-se de tudo.
A Maria voltou a dizer asneiras para ser fixe, a Maria voltou a falar com o António que não conhecia, pois ele dizia-lhe que era bonita e ela queria tanto acreditar, a Maria voltou a trair a melhor amiga, porque estava apaixonada pelo namorado que, afinal de contas, coitado, amava as duas ao mesmo tempo e não tinha culpa disso, e tudo voltou ao mesmo.
Porra para os telemóveis que levam as Marias de nós!

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